José Murilo de Carvalho (1939 – 2023)

As ciências sociais brasileiras perdem um dos seus grandes nomes. Faleceu hoje no Rio de Janeiro José Murilo de Carvalho, cientista político e historiador mineiro notabilizado pelos seus estudos sobre o difícil processo histórico de construção da cidadania no Brasil, bem como sobre o papel das elites burocráticas (durante o Império) e militares (na República).

No momento de transição democrática dos anos 1980, Carvalho foi uma voz dissonante com seus estudos que mostravam as dificuldades do associativismo no Brasil, revendo teses de Oliveira Vianna sobre o insolidarismo social, como no livro paradigmático Os Bestializados, de 1987. Parte de uma geração brilhante de cientistas sociais mineiros, a sociologia histórico-comparada que José Murilo realizou permitiu calibrar visões mais voluntaristas da ação coletiva levando em conta também os constrangimentos históricos e estruturais.

Graduado em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1965, José Murilo fez mestrado (1969) e doutorado (1975) em Ciência Política pela Stanford University. Por quase vinte anos atuou como professor no antigo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), onde teve papel fundamental na formação de pesquisadores e na modelagem da área de pesquisa do pensamento político brasileiro. Em 1997, tornou-se professor titular de História do Brasil no Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Trabalhos como A construção da ordem: a elite política imperial (1980), Os bestializados (1987), Teatro de sombras: a política imperial (1988), A formação das almas: o imaginário da República no Brasil (1990) e, entre outros, Forças Armadas e Política no Brasil (2005) integram o repertório fundamental de interpretações do Brasil do século XX.

José Murilo de Carvalho foi diretor da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), entre 1978 e 1980, e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e da Academia Brasileira de Ciência (ABC).