Apresentação:
O objetivo do curso é o de discutir a partir de uma perspectiva de análise ‘decolonial’, as bases eurocêntricas do racismo nacional e suas consequências nas relações econômicas, culturais e epistêmicas. De acordo com esta perspectiva, cujo principal expoente foi o sociólogo peruano Aníbal Quijano (1928-2018), ‘raça’ foi um conceito criado no bojo da empresa capitalista de colonização européia. Antes do processo de colonização, a Europa não se via como ‘Europa’, isto é, como o centro de irradiação de um projeto superior de civilização, mas sim como um lugar multicultural e multifacetado. Foi preciso o contato com o ‘outro’ não europeu, para que ideia da Europa enquanto centro do mundo surgisse. A idéia central por trás da criação desse conceito é o de opor radicalmente o colonizador do colonizado, de tal forma que o colonizado é visto sempre como culturalmente inferior, e, portanto, colonizável. O não respeito ao direito das populações locais à ocupação de seu território da maneira que lhes melhor conviesse foi justificado pela ‘superioridade’ da política liberal européia e de sua economia global de mercado. A ideia de racialização dos corpos dos nativos marcou a empresa colonial moderna e esse modo de colonialidade do poder perdura nas relações das sociedades pós-coloniais, como pretendemos mostrar neste curso.
Público-alvo:
Pessoas ligadas a área de educação, isto é, professores, coordenadores, pedagogos, estudantes que cursam licenciatura, pesquisadores. É possível a admissão de pessoas de outras áreas interessadas na temática.
Modalidade:
Presencial.
Carga-horária:
16 horas
Programa do curso:
1º Módulo – Colonialidade do poder (31/08)
Neste módulo discutiremos a colonialidade do poder com as vozes de Aníbal Quijano e Walter Mignolo. Segundo Aníbal Quijano, a atual globalização é continuação do processo de conquista da América que reduziu povos a corpos úteis a partir da consolidação da Europa na centralidade do sistema mundo. O uso de categorias e concepções raciais como estratégia de exploração e dominação promoveu o assujeitamento de povos e civilizações americanas, e relegando a espaços secundários ou a extermínios, racionalidades, ontologias e epistemologias alternativas.
2º Módulo – Sistema colonial de gênero (28/09) – “feminismo” decolonial
Neste módulo discutiremos o sistema colonial de gênero através da autora argentina, feminista decolonial, Maria Lugones. Lugones atualiza o conceito de colonialidade de poder desenvolvido por Aníbal Quijano, conferindo ao gênero o lugar de categoria de dominação e opressão colonial, fundamental na construção de dicotomias de poder.
3º Módulo – que é lugar de fala? (19/10) – interseccionalidade no “feminismo”; mulherismo negro.
Debateremos também com as autoras Patrícia Hill Collins, Luiza Bairros e Angela Figueiredo na busca de intensificar o diálogo de ideias entre o norte e sul da diáspora africana, por meio de conceitos como a teoria do ponto de vista de Hill Collins, segundo a qual a experiência da opressão sexista é dada pela posição que ocupamos numa matriz de dominação onde raça gênero e classe social interceptam-se em diferentes pontos. Além disso, abordaremos as dificuldades que há nos grupos posicionados no poder em se pensar sobre o significado de ser branco, do que representa refletir a questão racial a partir da branquitude. As reflexões e os estudos sempre se dão a partir dos grupos subordinados, enquanto os que se encontram no poder não se estudam nem se pensam.
4º Módulo – necropolítica e biopoder (30/11)
A Necropolítica é uma política centrada na produção da morte em larga escala, é um modelo de gestão do corpo social que consiste na separação e distribuição dos corpos, entre aqueles que serão poupados e multiplicados, e aqueles que serão exterminados ou abandonados à mercê da morte. O livro de Achille Mbembe, filósofo camaronês, baseia-se no conceito de biopoder de Foucault, e examina a relação entre conceitos como soberania e estado de exceção, deixando em evidência como políticas públicas adotadas pelo Estado (ou a ausência delas) desembocam na morte de corpos indesejados pela sociedade. A partir de uma perspectiva não eurocêntrica, Mbembe procura traduzir a lógica da violência nas sociedades pós-coloniais, através de uma análise genealogia do poder da morte sobre os corpos marginalizados.
5º Módulo – culturas híbridas e resistências (7/12)
Finalizamos nosso curso nos debruçando sobre a questão da identidade nacional constituída a partir do encontro das culturas indígenas, africanas e portuguesas, mas na qual as raízes culturais das duas primeiras foram praticamente apagadas.
Inscrição:
11 de julho a 17 de agosto de 2018
Período de realização:
31/08, 28/09, 19/10, 30/11, 07/12
Local das aulas:
IFCS, Largo do São Francisco 1 (sala Celso Lemos).
Horário: das 14 às 18 hrs
Número de vagas:
50 vagas
Inscrições: